sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Não me peçam…


Não me peçam que aos homens me pareça

Não me peçam ser aquilo que não sou…

Não me peçam que corte as mãos ou a cabeça

Não me peçam para ir, porque não vou!

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Não me peçam para rir que já nem sei

Nem tão pouco ser uma lágrima fingida…

Não me peçam para que vá mais além

Se não tenho meta nem ponto de partida!

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Não me peçam para que finja ou minta

Dessa fala, não sei pouco nem tanto…

Não me peçam para que caído me sinta

Porque á muito que estou e não me levanto!

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Não me peçam para que a morte mate

Não me peçam para que guerras comece…

Não me peçam que a uma criança maltrate

Não me peçam para que reze dessa prece!

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Não me peçam para ser político

Pois que por honesto quero ser reconhecido…

Não me peçam para ser palhaço sem circo

Ou passar por rico sem ter abrigo!

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Não me peçam o pouco que já não tenho

Não me peçam para que ladrão me torne…

Pois que de vergonha o meu mundo desenho

De cor pálida em papel de fome!

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Não me peçam para ser cobarde

Pois que de qualquer luta não desisto…

Não me peçam para que verdades guarde

Porque em dize-las, sempre insisto!

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Não me peçam o desumano

Não me peçam que me culpe por ser gente…

Apenas quero ser um ser humano

Apenas quero nesta selva ser diferente!

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Não sei em que mais línguas querem que fale

Mas com certeza muitas mais falarei…

Só não me peçam para que me cale

Pois essa língua… é a única que não sei!

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-Moisés Correia-

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O jogo da vida!



Um jogo começa quando se nasce

Os dados são lançados na vida, á sorte

Rodopia um mundo num palco de veludo

Ganha-se perdendo, até que chegue a morte

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Uma infância corre descalça de medos

Sem vencer se gritam vitórias

Vencem grandes pequenos, fracos fortes

Passam rios a fios, às margens das histórias

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Espreita curioso um olhar ingénuo

Por cima de um muro que se diz mais alto

Perde-se de vista aos montes, visões insólitas

Batalhas de sonhos em castelos de assalto

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Um mundo se acha escondido

Uma guerra se tenta enganar

Ruma um barco ao perigo do mar alto

Mãos que puxam redes, em razão do acreditar

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Uma selva de emoções se impõe

Desbravam-se os campos do raciocínio

Descobre-se o significado da palavra amar

Numa estrada sem destino

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Uma sede bebe do sangue da existência

Um jardim é plantado num céu de rosas

Alguém se diz não morrer sozinho

Perdem-se os sabores dos amores sem provas

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Um risco se arrisca ao limite

Vive-se com o futuro no fio da navalha

Meras palavras passam a ser sobras

Quando tudo no amor falha

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Um momento passa a ser eterno

Caminha um deserto num beco sem saída

Os dados foram lançados! Será que calha?

E assim se joga… este jogo da vida!

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-Moisés Correia-



sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Dono do céu!




Uma noite se rodeou de luz

Cantou um pássaro nos umbrais

Dançou um beijo a cada passo

Num desejo de ouvir mais



Segurei o tempo por um momento

Se inundou um corpo em maré vazia

Zarpou um barco de um velho cais

Rumo ao mundo que o prendia



Vi no alto, nuvens cristalinas

Sobrevoei um corpo celeste de lés-a-lés

Respirei com o fôlego que já não tinha

Senti a terra despegar-se aos pés



O mundo se tornou pequeno

Um quarto sem cama amou no chão

O tempo perguntou às horas; quem tu és?

Respondeu sem tempo uma emoção



Dois corpos vestidos de nada

Duas sombras dançam como chamas

Enrolam-se olhares, perde-se a visão

Ouvi-te sem voz dizer que me amas



Uma mão passeou pelos cabelos

Escapa o silêncio numa palavra qualquer

Prende-se na mente o perfume que imanas

Com sabor amor, um jeito de mulher



Um abraço se aperta profundo

Solta-se das grades um inocente réu

Acoitam-se dois corpos num sono eterno

Por uma noite… fui o dono do céu!



-Moisés Correia-


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A ilha da mentira!


Toca e foge um leve beijo

De voz meiga, num vem e vai

Sente-se o pulsar de um coração

Que da alta falésia, se debruça e cai

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Um mar adormecido acolhe os tombos

Encharcam-se as dúvidas em certezas

Uma corrente de água puxa a seu jeito

Para longe da terra, frágeis fraquezas

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Um ciúme ancorado se arrasta lento

Um secreto adeus beija as areias da mentira

Alimentam-se os remorsos de fruta ódio

Gretam-se os lábios numa sede de ira

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Um corpo entorpece á sombra da noite

Os sentimentos giram mais que um tornado

Um abrigo procura na escuridão

A cama onde um dia foi deitado

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Uma voz parece chamar

Um toque decide sentir

Uma mão se estende sem forças

Alcança na brisa, a palavra mentir

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Uma fogueira se acende sem fogo

Um desejo, em cinzas se desfaz

Pede-se ao tempo que traga o sol

Um orgulho responde que não traz

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Passa longe um navio sem velas

Foge a salvação ao fundo do horizonte

Arrebentam ondas em marcas maceradas

Salpicam lágrimas no cume de um monte

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Um pedaço de terra passa a ser o mundo

A morte deixa de ser mistério

Triunfa o vazio num universo deserto

Reina imperfeito um perfeito critério

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Cavam-se covas, enterram-se verdades

Morre-se com tempo, não importa o dia

Uma viagem foi feita sem destino

Risca-se do mapa… uma ilha que não havia!

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-Moisés Correia-


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O grito de um poeta!



Num princípio de fim de noite

Reflecte o crepúsculo num copo vazio

Um cinzeiro se acende na espertina

Solta o fumo ao fundo do desvario

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Uma mente sobe desgovernada

Estende os braços, toca a lua

Um corpo que só perde viaja no limite

Alcança no céu, vozes de uma alma nua

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Espaço vazio em tempo demente

Um pedaço de nuvem, esperanças mortais

Foge preso ao medo de um sonho antigo

Solto pelos dedos que não apertam mais

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Agarra-se a verdade de um segredo

Uma sombra de luz fica inquieta

Um beijo prometido perde-se pela demora

Cai numa perdida rua á descoberta

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Um anjo desce ao abismo

Sobe o mar, abate-se o inverno

Entra fundo um punhal de gelo

Congela as chamas do próprio inferno

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Uma maçã, á muito que foi roída

Um paraíso deixou a serpente falar

O sangue jorra sem se deixar ver

A carne fraca, teima em acreditar

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Um homem tenta o impossível

Voar sem as asas que um deus não deu

Voam altos os medos, fés e nostalgias

Pelos campos das alegrias que já perdeu

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Uma caneta transpira na mão

As palavras tentam descodificar pensamentos

Um lapidado complexo mundo interior

De quem nada vê por alguns momentos

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Uma garrafa caída verte pingos de loucuras

Uma escrita grita num papel que não diz ais

Faz a dor escapar á mente de um poeta

Onde só uma folha em branco… o faz gritar mais!

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-Moisés Correia-


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Janela de sonhos…






Desta janela de sonhos, portal intemporal


Sinto a brisa que passa e arde em minha ávida carne


Arroubo de exageros que me fervilham até tarde


Sentindo a sós tua voz, ao toque de um sabor carnal!



Rasgo de desejos, teus seios a minha alma invade


Em sorrateiros beijos que se estendem á tua boca rubra


Que em lasciva loucura, arfa para que teu corpo descubra


Divida adquirida por paixão, que sofre para que a magia a salde!



Janela de cortinas invisíveis que descortinam loucuras a dois


Num céu onde só brilham estrelas de emoções… que depois


Correm como os rios, pelos desvarios da fantasia…



Como cavalo em fuga que foge pela estrada da saudade


Corro nesse brilhar fosco da noite, em trilho da verdade


Solto a sonhar, até ver o amanhecer de um novo dia!



-Moisés Correia-